Transcrição e análise de movimento - Encontro dia 17/04/2017
Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 17/04/2017
Vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=W2U-BtyjGl8
Conversa inicial (00:00 à 06:29): Algumas observações sobre disciplina de presenças. A aula de hoja será um resumo de tudo o que trabalhamos.
Aquecimento (06:29 à 22:07): Para dar uma animadinha iniciam com uma corrida. A coreografia segue a mesma de todos esses anos: Correr todos juntos, pausar todos juntos, cair em espiral e levantar em 5 tempos de “fotos”. ::Ao final de muitas repetições eles vão do plano alto ao baixo em câmera lenta.
Observações do Hugo :
Corre, não pula. Porque continuam brincando como se estivessem na escola do primeiro grau? Se vocês não esquivam e procuram o espaço livre pra correr, não me interessa correr.
Não se pode esperar uma ordem e perder o tempo. Alguém tem que ter a força de dar a ordem.
Essa parada foi ruim. Essa não é uma parada de correr. (…) Não é uma posição de parar, é parar na corrida. O peso nunca pode estar para trás, as pernas não podem estar esticadas porque estou correndo e uma perna tem que estar diante da outra e não ao lado da outra. Tudo isso é mentira.
Não cai assim, cai na fetal.
Cair não é sentar. O pior que você faz é mentir no trabalho.
Tentem não repetir o que fazem sempre.
(sobre a câmera lenta) Não faz passo, não faz qualquer coisa. Sinta a gravidade. Sinta o seu peso, seu joelho, o equilíbrio e o uso dos braços para manter meu equilíbrio.
(sobre a câmera lenta) Não faz com força. A força não é boa. A força me tira o equilíbrio. Qual é a maneira mais fácil de chegar ao chão. O que tem uma continuidade e um equilíbrio absoluto.
(sobre a câmera lenta) Ele não faz, ele só observa e sente.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 1) Um treinamento estético do Hugo é a corrida que “desliza” pelo espaço em contraposição da corrida que salta para cima. Isto é um treinamento para o intérprete, pois o força a ter um corpo diferente do cotidiano. Não se trata de correr para apenas aquecer o corpo, é também um exercício estético. A corrida é um exercício de atenção ao coletivo e também de limpeza estética.
(Sobre 2) Para o Hugo, não basta que o grupo execute uma ordem que ele deu, mas que o coletivo consiga desenvolver entendimentos próprios de como agirem em coletivo. A hora de parar de correr tem que ser instantâneamente sincronizada para todos os indivíduos, mas ao mesmo tempo não se deve ver quem é o lider. Tudo isso é um esforço de desenvolver uma coralidade sensível, isto é, uma coralidade que derive de uma abertura sensitiva dos participantes e não no entendimento racional de uma coreografia.
(Sobre 3) A convenção estética da “congelada” ou pausa da ação, para o Hugo, é que o movimento deve ser interrompido no decorrer do mesmo. No caso, se estamos correndo, não faz sentido parar em uma posição que não seja de um corredor em ação. É uma escolha estética que tem também uma repercussão técnica uma vez que este tipo de pausa força o intérprete a manter a continuidade da sensibilidade interna. A pausa deixa de ser uma pausa e passa a ser mais uma etapa do movimento.
(Sobre 4) Outra escolha estética, a posição final da caida em espiral é a posição fetal.
(Sobre 5) Se a proposta é cair em espiral, há uma forma específica de se fazer isso. O que ele chama de mentir, neste caso, é se acomodar para “cumprir” uma ordem como se a forma do movimento não importasse. A realidade é que a exigência técnica do Hugo faz com que TUDO importe. Não se pode ignorar nenhum detalhe.
(Sobre 6) Mais uma vez a ênfase na exploração em detrimento da simples repetição.
(Sobre 7) Mais uma vez a atenção plena do intérprete para o seu corpo, o que chamo de sensibilidade, é a chave para a execução perfeita desta técnica.
(Sobre 8) Um dos resultados de uma câmera lenta bem feita é a descoberta de caminhos para o movimento que não são os costumeiros, pois pendendo da proposta um movimento feito em câmera lenta não será possível ser feito da mesma forma que se faria num andamento cotidiano. Assim, o uso da força demonstra que o intérprete está tentando reproduzir a forma cotidiana de se realizar uma movimentação e naturalmente esbarra na dificuldade física de se fazer isso em câmera lenta. Seria preferível procurar outro caminho que não perturbasse o acabamento estético do movimento lento.
(Sobre 9) Isto é, ele não executa uma ideia pré-concebida, mas observa e sente seu corpo e segundo esta sensibilidade descobre no ato qual é o melhor caminho para a execução.
3 minutos pra fazer o que você quiser com tudo o que temos aprendido até agora (22:07 à 43:55): Usando um sofá de três lugares como cenografia, individualmente, cada um tem 3 minutos para mostrar tudo o que aprendeu em uma performance improvisada livremente.
Notas do Pesquisador:
De maneira geral, vemos nessas improvisações os Parâmetros do Movimento como descritos na minha dissertação de Mestrado 1: Variações de 6 Andamentos, 4 Frentes, 3 Planos, Características Formais diversas e Tônicas Musculares. A Voz Muscular apoiada nesses teatro físico também é visível. Enquanto o texto serve de roteiro para o movimento.
Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=ly1ok1tJmEE
3 minutos pra fazer o que você quiser com tudo o que temos aprendido até agora (00:00 à 09:40) [Continuação]:
Observações do Hugo :
Fiquei muito surpreso em geral. Gostei em geral. Mas tem algumas pessoas que ainda tem muito medo.
Algumas pessoas sentem a necessidade de fazer e ficam demais. Algumas pessoas se alongam demais, normalmente quando você acha que não mostrou o que tem que mostrar.
Todos os movimentos foram coordenados, a voz muscular ficou clara. Isso me agradou hoje.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 2) O Hugo se refere a capacidade de ser sintético na apresentação e não reiterar o que já está claro.
Fim da Aula/Ensaio
1CAFÉ, Flávio. O QUE APRENDI COM MEU MESTRE: Mapeamento dos princípios técnicos para o ator utilizados por Hugo Rodas. Dissertação de Mestrado. Universiadade de Brasília: Brasília, 2022.
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