Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 04/05/2017
Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 04/05/2017
Vídeo: https://youtu.be/xmFsA4kEkT0
Conversa Inicial: Em uma grande roda, conversam sobre o trabalho com masculino e feminino.
Observações do Hugo:
A masculinidade e a feminilidade não têm a ver com adjetivos. Tem que ver com os substantivos, com a palavra, com o sexo mesmo. O que significa isso dentro de mim e não com o que estou acostumado a fazer para imitar uma mulher, ou um homem.
Cada dia mais você vê essa liberdade [de performance de genero heterogênea].
Facilmente você vai reconhecer isso quando você se preocupar com o olhar. Eu me dei conta que quase ninguém se atreve a olhar, nem a mim, nem a coisa alguma. Dirigem o olhar para outro lugar, porque dá medo. E o ator que não tem olhar não tem personagem. Não tem olhar, não tem verdade. Por exemplo: toda tua postura é masculina, mas quando você fala é feminina. Tem muito a ver com o olhar. Você não se atreve a trocar, você não se atreve a mostrar seu interior.
Ele me disse um dia “é fácil fazer uma mulher”. Não é fácil. É fácil fazer o que ele acredita o que é uma mulher. Estereótipo. Feminino não é ser homossexual. Há uma presença enorme. Isso está sendo uma coisa diferente. Acho muito começar a descobrir pra não ficar apenas na afetação. Eu tentei muitas vezes na vida corrigir a afetação dos meus alunos, se não o teatro não vai ter mais homens. Só vai ter Julietas. Não vai ter mais Romeus. O problema não é deixar de ser quem você é, mas ter a técnica de ser qualquer coisa. Dominar uma técnica que te permita ser qualquer coisa e não só aquilo. Entender o que significa uma posição masculina. O paralelo é uma posição masculina. O olhar é diferente, a postura física é diferente.
O que que importa no teatro? É o que você vê.
Curar nossos medos dos papéis de genero internos.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 1) Retorna o tema da corporalidade não como imitação do outro, mas da sensibilidade interna do que é o masculino ou feminino para cada um. O conteúdo afetivo e não a forma externa. A forma externa segue os Parâmetros do Movimento, mas o entendimento do exercício deriva da sensibilidade.
(Sobre 2) O exercício tem que ser sensível, pois se for pela forma acaba sendo uma imposição de uma única possibilidade de expressão do genero. Enquanto que acessar uma feminilidade ou masculinidade interna exerce uma influência sobre a performance sem impor uma forma externa. A forma será decorrente da sensibilidade e não o contrário.
Pelos comentários dos estudantes fica claro que este exercício gera uma confusão interna, pois há uma tensão entre o que se sente internamente e a percepção externa deste sentimento.
(Sobre 3) O olhar revela o que se sente internamente, portanto é a chave para expressar qualquer coisa, inclusive este exercício.
(sobre 4) Como não deixar as nossas formas cotidianas de ser interferir com os personagens que fazemos?
(Sobre 5) Aqui temos uma questão, pois o que se vê é o que será percebido pela platéia, mas do ponto de vista do intérprete não se trata de reproduzir uma forma. Então, para o intérprete o interno é o que mais trás a verdade enquanto que para a platéia será o externo.
(Sobre 6) Esse tipo de exercício mexe com as identidades que cada um assume para existir no mundo. Encarnar uma outra identidade mexe com os nossos medos. Diferentemente da forma externa, o exercício é “vou tentar sentir o que sentiria uma mulher ou um homem”. Fica claro que o caminho do exercício é interno para chegar ao externo e não o contrário.
Vamos descobrir quem é o masculino e quem é o feminino (42:55 à XXXX): Duas pessoas fazem uma performance em câmera lenta no sofá e os outros vão tentar descobrir quem é o feminino e quem é o masculino.
Observações do Hugo:
Dupla 1 (43:25 à 45:48) : Para mim desde o início já estava tudo definido. A energia, a postura, tudo. Por isso exigo a câmera lenta.
Dupla 2 (48:57 à 50:08): Por que pedi para não tirar o olhar? Quando você para de olhar, você começa a interpretar. O olhar te obriga a manter uma relação e a funcionar através do olhar.e não através apenas de mim, mas me obriga ao outro.Não delira. Há coisas que são claríssimas, por isso chamo de físico.
Dupla 3 (51:14 à 53:18): A câmera lenta evita cair no estereotipo rapidamente. Não é buscar a emoção, é sentir a provocação que está na sua frente.
Dupla 4 (57:41 à 59:00): Perfeito.
Dupla 5 (59:52 à 01:01:41): Ele já tinha decidido ser mulher. Esse é o problema de pensar antes, e não sentir o exercício. Não decide. Por isso eu peço que você vai lá e fique numa posição neutra, se olhem e comecem. Acho que o melhor seria se sentar e se olhar antes de começar.
Dupla 6 (01:05:05 à 01:07:00): O melhor do exercício foi o começo.Vocês se sentaram, e aos dois segundos sabiam. Depois começou a interpretação. A interpretação de leva a um lugar comum, te leva a mesma postura de sempre. quando você vai e sem interpretar e responde ao outro. São decisões. Isso que quero que vocês entendam: é tão claro ver quando vocês decidem um gesto e um gesto não vem organicamente.
Dupla 7 (01:09:27 à 01:10:59): Não decide, sente.
Dupla 8 (01:12:48 à 01:15:07): Estupendo.
Dupla 9 (01:16:12 à 01:18:42): Você tem que identificar a coisa muscular mesmo.
Dupla 10 (1:21:21-1:23:42) :
Dupla 11 (1:25:27- 1:28:11):
Notas do Pesquisador:
(Sobre 1) A câmera lenta possibilita ver a transformação de genero em detalhes.
(Sobre 2) O trabalho é físico, pois se trata de transformações visíveis e sensíveis musculares que trazem a tônica muscular exata ainda que o entendimento da tônica se dê de intuitivamente por meio do trabalho da conscientização corporal constante.
(Sobre 5) Mais uma vez a armadilha de se querer reproduzir uma ideia pré-concebida e como isso atrapalha o desenvolvimento do exercício.
(Sobre 6) A contraposição é clara: de um lado memória/interpretação/ideia(pré-concebida) e do outro lado abertura/sensibilidade/ideia(não fixa, descoberta pelo movimento).
De maneira geral a aula é uma prática analítica dos resultados dos treinos das aulas anteriores. Alguns fatores se repetem:
Interno/essencia em dialética com externo/forma.
O uso massivo da câmera lenta como abordagem investigativa e não apenas como exercício.
Ênfase no trabalho muscular em que a expressão é da tônica muscular.
Fim da Aula/Ensaio
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