Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 09/05/2017
Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 09/05/2017
Vídeo 1: https://youtu.be/6lTp4vmesP8
Conversa Inicial (00:00 à 06:02):
Observações do Hugo:
Hugo comenta que adorou o trabalho das últimas aulas e comenta: “Eu nunca fiz isso antes. Estou experimentando com vocês.”
Notas do Pesquisador:
(Sobre 1) Essa é a atitude investigativa do Hugo que está sempre presente e ele exige isso dos participantes.
Apresentam as cenas que trabalharam em casa com texto (07:34 à 38:00): Variando entre as energias masculinas e femininas cada um apresenta seu texto.
Observações do Hugo:
Performance 1 (7:34 à 9:16) : Congela. Existe um problema. É teatro. Quero te eu ouvir. A emissão e o movimento estavam bem. Mas a falta de projeção pode ser por timidez por estar fazendo a mulher. Por que parou de tocar o braço? Vejam bem, uma das coisas que eu acho que não está bem é a falta de colocação da voz segundo um trabalho muscular e sentir a coisa. A voz ficou no mesmo registro, com a mesma entonação, e a única coisa deu significado ao homem a violência. E a violência feminina? Por que teria de trocar a mulher?
Performace 2 (13:21 à 18:06) : Ok. Eu tive dúvidas totais quando você começou. EU não vi o homem. Eu sinto é que não chegamos ao fundo da coisa. Sinto que ainda o texto é igual, o que troca é a coreografia. O texto é igual, com o mesmo tom, com a mesma velocidade, não sinto aquele trabalho com a voz muscular, o que o músculo me obriga a ter outra voz. Se eu fosse uma maestra: “a voz não troca suficiente para acompanhar o que você faz. “a voz acompanha de outra maneira a tensão muscular na mão, ela me dá a música para que o meu movimento tenha outro movimento, outra postura.
Performance 3 (18:06 à 20:19): Você não trocou nunca. [tentei] Alguém viu os dois? Eu senti uma energia masculina no começo, mas muscularmente como estava afetado uma mulher, como uma pessoa afetada. o que falávamos para Arthur. Pra você não é fácil fazer uma mulher, pra você é fácil fazer um estereótipo de uma mulher. Não era um homem, não era uma mulher. Qual a diferença que existe em tudo isso?
Performance 4 (21:49 à 23:54): . Ok. Eu vi coisas curiosíssimas. Quando você parecia um homem, quem falava era uma mulher. e quando você falava como mulher, você parecia um homem. Muito curioso foi. É bom falar para ter um retorno. Quando fazemos um gesto, tem que pensar no que fazem para o público. O que estou fazendo
Performance 5 (26:15 à 29:11) : Ok. Eu vi a mulher no começo, sem texto: Por quê? O trabalho é com texto. Não era sem texto. E quando aparece o texto você deixa de ter um trabalho orgânico para passar a mostrar o que você não mostra sempre – sua interpretação. Ou seja, não está evoluindo nesse sentido. Você continua mostrando o seu dote de ator, e não um trabalho orgânico com o corpo. Por exemplo: deita como no início. Tava super linda a pose e o cara não aproveita. Percebem que nem sabia como estava. Eu saberia como estava. Agora fala. [...] Não estou ouvindo. [...] Ok. Você não que poderia intensificar mais o feminino. É outra coisa que vocês têm de aprender: quando vocês falam, por que não é orgânico? Porque vocês repetem uma letra de memória que não tem nada a ver com essa situação. É um texto que não tem nada a ver com a posição. [Hugo se levanta.] Vocês acham que projetar é apenas falar alto. Eu posso ter tempo para isso, eu posso ter pausa pra isso. [Começa a recita Ave Maria.... Faz vários papéis] Tem uma coisa que me vem de dentro para poder fazer isso e não fórmulas. Estou combatendo a fórmula. Tentem ao vir aqui não ir para a fórmula, mas sim ir ao sentimento do que é isso, do que estamos tentando fazer.
Performance 6 (33:51 à 36:32): Congela. Este é o melhor que você fez até hoje em aula. Pelo menos você deixou de ser você. Isso é fantástico
Notas do Pesquisador:
(Sobre 1) Ouvir é básico, é algo que o Hugo aponta, pois se trata de uma performance feita para o outro. A variação das intonações da voz juntamente com o corpo é um indício de que a emissão vocal é muscular, pois se os movimentos e as tônicas musculares variam a voz também deve variar de acordo. Não foi o que aconteceu no exercício: o corpo estava bem variado, mas a voz não.
(Sobre 1) Quanto ao movimento vê se clara a câmera lenta feita com o corpo todo. Observe que os pés se movem ao mesmo tempo que o resto do corpo e compõem uma só criação. É quando a performance sai da intelectualidade e vai para o corpo é que se vê esse fenômeno.
(Sobre 2) Para a segunda performer se trata do mesmo problema que o primeiro: a voz não acompanha o movimento ainda que o movimento consiga variar. Porém sua performance não parecia estar completamente muscularizada a ponto de “incorporar” os personagens masculinos e femininos.
(Sobre 3) Trata-se de um exercício de variação entre as energias trabalhadas nas últimas aulas: masculino e feminino. Essa transformação tem que ocorrer externamente também ainda que a forma externa não deva ser a matriz da transformação.
(Sobre 4) Nem sempre a forma externa vai expressar o que imaginamos que ela expressa. Mas isso não é necessariamente um defeito, mas algo que temos que ter consciência.
(sobre 5) Neste performance fica clara a interpretação de uma ideia pré-concebida narrativa. Além das observações do Hugo vê-se a vontade de falar um texto do jeito como ele é concebido anteriormente. Isso se mostra no fato de que o performer só conseguiu fazer o trabalho com o texto com a energia masculina, pois o seu texto é (teoricamente) um texto falado da perspectiva masculina. Logo em seguida, quando o Hugo dá o exemplo ele mostra como o texto pode ter muitas entonações e todas elas têm uma ligação com o corpo e com a sensibilidade interna do momento. Não se trata de recitar o texto, mas de fato de vivê-lo.
Vídeo 2: https://youtu.be/juvO2MH6VZk
Apresentam as cenas que trabalharam em casa com texto (07:34 à 38:00)) [Continuação]: Variando entre as energias masculinas e femininas cada um apresenta seu texto.
Observações do Hugo:
Perforamance 7 (00:56 à 04:26): Essa foi uma das coisas melhores do exercício, como você conseguiu as mudanças sem cortar. Isso é o que chamo quando eu falo no exercício: quando correrem, sintam que tem uma linha e não parem. Foi estupendo. Me emocionei. Quase chorei de felicidade de te ver. o entendimento da linha
Performance 8 (6:34 à 6:50): ok [Hugo refaz a cena. Eu sinto] Chama ele desde o começo. Não se acomode. Esse ator que você tem acaba com você retorna. Você não fez o trabalho e não a interpretação. Termina uma coisa e começa outra. Você vê o ponto, não vê a linha.
Performance 9 (10:38 à 20:37): Eu não sei se sou surdo, é baixíssimo, é muito baixo. E nasci pra teatro grande. Eu nasci pra três milhões de pessoas, eu não nasci para uma pessoa que está do meu lado. Senão estaria casado. Houve bastante ligação física e não oral. Vocês precisam começar a ter confiança na voz. [para Carlos] Há ausência de graves. Está muito soprano o som. Aí você toca, Não toque! Crie sons. Não tente uma melodia, crie sons.
O que estamos fazendo é tentar descobrir uma música interior que acompanha um gesto Yang e um gesto Yin.
Quando você vai aí não é pra fazer um gesto seguro é para trabalhar-se e descobrir-se. Me surpreender com o trabalho e não me afirmar com o trabalho.
Performance 10 (22:50 à 30:00) É uma pena que não acreditem na câmara lenta. Porque eu estou pedindo que seja em câmara lenta e quando vocês vão, vocês interpretam. [você antecipando as coisas, não vivendo cada instante. Memória corporal] 26:52 [Hugo vai para o sofá e refaz movimentos performance 10] Se você tivesse feito em câmara lenta. Lento assim, sentir que você arrisca, que você trabalha interiormente, sem respostas imediatas. Com a câmara lenta não sei para onde vou. e quando eu sei para o que fazer, parecia de mentira. Na minha aula não é para ninguém ficar triste, qualquer coisa que você faz é para corrigir, para ter mais pique, pra ficar pra cima. Apreciar a tentativa de fazer algo diferente do que você faz. E isso te deixa sempre no mesmo lugar, num poço. Tente sair do poço.
Performance 11 (30:08 à 32:38): Fica sentado. Sem fazer nada. Fala esse texto no registro mais grave que puder. Há um problema, isso é o que tento corrigir. Há uma afetação ao emitir a voz tanto ao fazer o homem e quanto a mulher. Não se sabe o que está acontecendo. Você vai de uma mulher para uma pessoa muito afetada. Afetada nos movimentos, afetada na voz, que está muito mais perto de um estereótipo que da mulher em si. Para isso que estamos fazendo o trabalho. Ou é um homem afetado, ou é uma mulher afetada. Mas não é essa essência que estamos tentando pegar. Eu sei que você está entendendo. Fala agora. E você foi se acomodar, sentir teu lugar de segurança. Eu sempre falava para o Manfred: ele chegava sempre a um lugar que era o mesmo. Há uma afetação corporal que acaba com o trabalho. Ele não permite que a condução da voz me leve ao movimento e não o movimento separado da voz. Não o movimento separado da voz. Isso é o que o chamo de afetação. Estamos trabalhando uma coisa específica.
Performance 12 (37: 22-39:40): Ok. Acho que foi o teu melhor
Notas do Pesquisador:
(Sobre 7) Não interromper a linha criativa é um fundamento desta técnica e algo que é treinado durante as aulas. Descobrir a cada momento o que se vai fazer.
(Sobre 8) O contraste com a exercício anterior é gritante. Não apenas se vê as interrupções na linha criativa como se vê pelo final do exercício que não se está em pleno estado criativo. Não se está imerso no trabalho, pois se estivesse não se teria dúvida sobre o final.
(Sobre 9) Mais uma vez a questão da voz muscular. É curioso como se trabalha muito a fisicalidade e quando se insere a voz vemos uma das três situação: Ou o corpo perde a sua organicidade ou o corpo mantem sua inteireza, mas a voz não acompanha ou o que seria o objetivo que é a união da fisicalidade do corpo com a fisicalidade da voz. Esse último caso é a Voz Muscular.
(Sobre 10) A música interior é a voz muscularizada que acompanha o movimento, que não se independiza do movimento.
(Sobre 11) Mais uma vez a atitude investigativa.
(Sobre 12) Uma tendência da compartimentalização do nosso trabalho é realizar o movimento em silêncio e a voz na pausa do corpo. Integrar o movimento com a voz é a chave. Se o andamento é câmera lenta porque não falar o texto também nesta mesma energia?
(Sobre 13) Feminino não é afetação. Para uma pessoa que é afetada em sua vida cotidiana isso é um desafio, pois fica fácil a cotidianidade invadir a interpretação. Da mesma forma uma pessoa muito “masculina” em sua vida cotidiana tem mais dificudade em fazer o feminino, mas são dificuldades diferentes. Mais uma vez: como sair do nosso lugar comum.
(Sobre 13) mais uma vez o movimento unido à voz. A voz que emana do movimento enão se independiza da performance.
Vídeo 3 : https://youtu.be/TTb_M6neIiY
Apresentam as cenas que trabalharam em casa com texto (00:00 à 13:49) [Continuação 2]: Variando entre as energias masculinas e femininas cada um apresenta seu texto.
Observações do Hugo:
Performance 12 (00:00 à ): Aqui claramente você o que eu chamo do ponto. Ele faz o movimento, ponto, fala. Ele faz outro movimento, ponto, fala. Normalmente a voz não troca.. O mesmo texto falado do mesmo jeito do começo até o fim.
Performance 13 (2:57- 4:10) 2:36 [Para o Carlos] Espera. Isso é o que estou te dizendo. Olhou para a guitarra, e não olhou mais pra lá. Olha para a cara dele.
Há uma falta de sustentar um pouco o trabalho pra você sentir, entrar nele,. Está fazendo outra coisa,[no lugar de mudar rápido. Está bem. Mas há uma falta de comprar a coisa. Porque eu tenho de trocar de gesto e de tudo. E a voz.
Performance 14 (7:38-9:43): Sai da câmara lenta. E uma coisa que eu odeio: é que quando interpretem movem a cabeça. Isso significa que não estou na voz. Você mesmo se abandona, entra no caminho da interpretação e não da busca. Homem efeminado não é uma mulher. é outra coisa.Você pensou vou me sentar e depois levantar. Aí começou a ficar tudo falso. Não pode se dar ordem. É só fazer, falar e fazer. Sentir. Vou trocar porque o gesto me leva a trocar.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 14) Mais uma vez a ideia de não interrupção da linha criativa que se manifesta por meio da não interrupção da câmera lenta. No caso do exercício esse princípio não foi bem realizado.
(Sobre 15) Essa é uma observação sobre a integração da produção sonora com a produção cênica. Não vale a pena fazer um som se ele não estiver conectado com a cena.
(Sobre 16) O exercício consiste em mudar de energia, mas não sifnifica que devemos trocar apenas como exercício. Trocar significa trocar tudo tanto o corpo quanto a voz de maneira orgânica com a sensibilidade. Por isso a câmera lenta é o foco do nosso exercício.
(sobre 17) Mais uma vez a questão da interpretaçaõ vs investigação. Ideias pré-concebidas resultam em interpretação enquanto que abrir-se para sentir o momento consiste numa atitute investigativa.
(Sobre 17) O mover da cabeça como afirmação do argumento interpretativo é uma muleta que demonstra um amadorismo.
Fim da Aula/Ensaio
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