Transcrições dos audios dos vídeos

 [O projeto Huguianas, além do ebook, disponibiliza 10 vídeos. Os vídeos são reelaborações de materiais encontrados nos registros das sessões de treinamento de 2017.  Parte do material dos vídeos se encontra no Ebook. Eis aqui todos os textos dos vídeos, transcritos por Janette Dornellas. Nas transcrições a oralidade foi mantida quando possível. Os áudios foram gravados no Classic Vibe Estúdio]



VÍDEO 01-Apresentação

Olá, estamos aqui no espaço cultural da 508 Sul, um espaço dedicado a todas as artes, a diversas linguagens e um espaço de excelência pra gente falar do nosso personagem que é Hugo Rodas. Nós estamos realizando uma pesquisa, desenvolvendo uma pesquisa sobre as relações entre teatro e música e Hugo Rodas. Então, nada melhor do que uns lugares onde essas linguagens se comunicam. Essa é a primeira razão. A segunda razão é, que nesse lugar foi inaugurada, em 2022, uma sala dedicada a Hugo Rodas, um teatro -  o Teatro Galpão Hugo Rodas, como vocês podem ver aqui.

Esse espaço inaugurado em 2022, alguns meses depois da morte dele, é um espaço dedicado às artes cênicas, às artes performativas e nós temos assim a continuidade de seu legado.

Então, sejam bem-vindos ao Teatro Hugo Rodas, onde nós vamos falar mais do nosso projeto de pesquisa.

14 de abril de 2022. Quem poderia imaginar que esse lugar agora vazio, um lugar de ensaios e de apresentações, se encheu, ficou repleto de pessoas de diversas idades, de diversas formações, artistas, curiosos, companheiros, amigos, parentes, para homenagear nosso querido Hugo Rodas. Quem veio aqui viu um velório inesquecível e um velório que dificilmente vai se repetir. Porque era, ao mesmo tempo que atrás de mim, por exemplo, estava o caixão do Hugo, as pessoas passavam, cumprimentavam, fazendo aquilo que se espera de um velório tradicional, em volta você tinha as pessoas rindo, chorando, e havia o grupo AMACACA, que foi o grupo que acompanhou o Hugo nos últimos anos, foi o último grupo que o Hugo se relacionou, tocando percussão, instrumentos de sopro, de cordas, então havia um misto de festa e de funeral. Uma verdadeira mistura dionisíaca do trágico, do cômico. E um lugar onde não havia silêncio. Existia um lugar de celebração. Ou seja, a melhor palavra que a gente pode trabalhar em relação ao Hugo. E é bem característico dessa estética, dessa poética que a gente pode chamar meio carnavalesca do Hugo, essa interação entre o sublime, o profano, vida, morte, tudo ao mesmo tempo agora. Então, logo depois desse velório-festa, eu fui convidado pela Secretaria de Comunicação da UnB, da Universidade de Brasília, para produzir um texto que eu vou ler um trechinho para vocês, o trechinho final. “Naquele caixão ali na 508 Sul estava um corpo que dançou, esbravejou e agitou plateias e mundos. Tivemos a bela oportunidade, aqui na UnB em Brasília, de sermos contemporâneos de Hugo Rodas, Agora, que a dança não pare, que os braços se ergam e a voz atravesse os ares. Mais forte que a morte.... é a memória do possível...Mãos à obra! Um homem que fez arte para se libertar e libertar os outros nos conclama: saber fazer e lutar. É assim que se vive. É assim que Hugo Rodas, meu querido mestre e amigo, viveu.”

O que eu senti, depois te ter participado dessa celebração, foi que nós ficamos tanto tempo recebendo os espetáculos de Hugo e trabalhando com Hugo e que existia uma memória, toda uma série de registros e que isso precisava ser estudado. E, diante disso, com o impulso desse sentimento, eu propus ao Fundo de Apoio à Arte e Cultura do Distrito Federal essa pesquisa, Huguianas, que tenta não decifrar, explicar o Hugo, porque ele é inexplicável, não é? Mas, tentar encontrar uma racionalidade que ele começou a falar dela, começou a escrever no final da vida dele sobre isso, essa racionalidade. E esse é o ponto principal desse projeto, ou seja, que essa pesquisa, assim como o impacto que ele teve nas nossas vidas continue na vida das pessoas que tiveram contato com ele, que esse impacto continue, ou seja, que seja multiplicado. Eu creio que o trabalho de grandes artistas não é um trabalho apenas sobre si mesmo, mas abrir horizontes para outras pessoas. Em função disso, nós vamos apresentar os tópicos sobre essa pesquisa, Huguianas.

(voz em off) Estivemos, então, no Espaço Cultural da 508 Sul e agora vamos para outro momento da carreira do Hugo que é justamente a Universidade de Brasília. Estamos aqui no Departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília, onde Hugo exerceu a sua atividade, desde 1989 até sua morte. Com a aposentadoria compulsória em 2009, ele passou a trabalhar mais na formação de intérpretes, procurando organizar e sistematizar seu conhecimento, em treinamentos regulares, os quais foram em parte filmados, gerando materiais para pesquisas como essa que estamos aqui apresentando.

Como a gente trabalhava nessas oficinas com muitos instrumentos musicais, fazendo muito som e na estrutura do departamento não era trabalhada essa questão sonora, a questão acústica, nós fomos pra sala de dança, para o Núcleo de Dança. Aqui nesse Núcleo de Dança, nós temos um afastamento do Departamento de Artes Cênicas, das atividades regulares lá e nós temos um espaço dedicado ao movimento. Nós temos uma sala espelhada. Nós temos este taco de piso no chão. E foi aqui que foram realizadas as oficinas que nós vamos analisar dentro desse projeto. Nós escolhemos um conjunto de vídeos que é bem homogêneo, está em sequência temporal. Esses vídeos foram gerados entre abril e julho de 2017. Nesses vídeos são registrados encontros semanais com estudantes, dentro de uma disciplina optativa chamada Técnicas Experimentais em Artes Cênicas, TEAC, criada para dar oportunidades aos professores, estudantes do Departamento de Artes Cênicas da Universidade formalizarem atividades fora de sua grade curricular. No contexto de 2017, a gente tem que entender que em 2016, nós olhamos para essa disciplina para uma primeira montagem do espetáculo chamado Salomônicas, que era uma paródia a partir do texto bíblico de situações que estavam acontecendo durante o governo Temer. Nós utilizamos, então, o espaço de treinamento para uma montagem. Essas oficinas do Hugo, elas não eram oficinas que visavam montagem. Então, é bem importante a gente ter em mente essa diferença entre treinamento e montagem. O Hugo, depois da aposentadoria dele, essas oficinas se focavam mais em treinamento, ou seja, em fundamentos básicos, expressivos, do intérprete. Fundamentos de ação, fundamentos de movimento, fundamentos da palavra. E essa relação entre teatro e música começou a se fazer muito presente nesses treinamentos, inicialmente por meio da participação dos próprios intérpretes, que eles eram solicitados a trazer instrumentos, a tocar instrumentos. E depois, com a minha presença, como um compositor residente, um instrumentista residente, como um compositor-músico residente em todos os treinamentos. Então, a transformação da sala de ensaios em uma sala de treinamento, essa passagem do ensaio para o treinamento, foi fundamental. E é fundamental pra gente compreender essas relações entre teatro e música em Hugo. Ou seja, diferentemente de você durante quatro meses, que é o semestre básico da Universidade, você começar com a leitura de um texto, um trabalho de mesa. Depois improvisações, construções corporais, pra gerar um produto para uma plateia, nós tínhamos a oportunidade de cada ser independentes. Você tinha um exercício para aquele dia e o ensaio era dividido em determinadas partes, que nós já vamos falar sobre isso. Então, cada dia, ele tinha a sua própria peculiaridade, um exercício. Mas, ao mesmo tempo, existia uma outra lógica: invés da lógica de você refinar algo para apresentar para alguém, ou seja, essa ideia de uma performance assistida, você tinha a possibilidade de um efeito cumulativo. Então, eu fiz um exercício hoje, um exercício de diagonal, como depois a gente vai comentar que exercício é esse. Esse exercício...não basta um dia só. Eu faço esse exercício, existe um intervalo entre o comando que o Hugo fala, ou seja, o que ele diz para você fazer e depois o que a pessoa vai realizar. E você observa, você como intérprete observa no espelho seu movimento, a sala espelhada. Você observa os outros. Os encontros são filmados. Você observa em casa. Você estuda em casa. Então você tem, ao invés de refinar a ideia de uma montagem de um espetáculo, você tem a possibilidade de refinar as suas próprias habilidades em ação. E isso, formando então um grupo com esta consistência. Ou seja, o grupo ele é formado de pessoas de diversas formações, diferentes idades. Além dos estudantes, nós tínhamos pessoas da comunidade. Não eram só estudantes. Então, você tinha essa heterogeneidade em cena, na sala de ensaios. Mas, você ao mesmo tempo, adquiria, no espaço da oficina, essa coesão na qual você estava exposto a esses treinamentos físicos, expressivos, que eram os mesmos pra todo mundo, feitos intensamente.





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