Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 16/05/2017
Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 16/05/2017
Video 1: https://youtu.be/Wc9GJfKj714
Criando o Mar em Câmera Lenta (00:00 – 15:00) : Em câmera lenta o grupo tem que fazer “o mar” usando as cabeças. Depois em câmera lenta vem “um vento forte” vindo primeiro da janela e depois do outro lado.Vai esticando os braços criando uma coreografia do mar.
Observações do Hugo:
Sente o físico, sente a coluna, sente o trabalho das cervicais. Sente, não faz!
Não trabalhem individualmente, por favor, é coletivo.
Notas do Pesquisador:
Por um bom tempo do exercício ficou clara a diferenciação entre sentir e interpretar. Já de primeira o Hugo pede para fazerem “o mar” e imediatamente fizeram uma interpretação de “pessoas na praia tomando sol”. Ora, “pessoas na praia” não é o mesmo que fazer “o mar” que é uma proposta mais simbólica, mas que necessita do coletivo uma integração mais sensível que intelectual. Enquanto que uma cena interpretativa de “pessoas na praia” apela mais para o intelecto que tem que analisar os simbolos da cena para interagir de acordo.
(Sobre 1) Sentir e não fazer não significa deixar de agir, mas sim deixar de agir conforme uma ideia pré-concebida. Todo o esforço do Hugo me parece no sentido de fortalecer a coletividade. Para este fim, as concepções individuais de cada um não são úteis, enquanto que a capacidade de perceber o outro por meio dos sentidos e compor com o que surgir é imprescindível. Não se trata do indivíduo, mas do coletivo.
(Sobre 1) A faculdade de “sentir” parte primeiro de uma conexão com o próprio corpo, por isso o trabalho com as partes do corpo (coluna, cervicais, etc...) e desse individual ela expande para o coletivo. Veja que não se trata de uma concepção intelectual do individual que se expande, mas de uma faculdade sensível, um desejo de conexão.
(Sobre 2) O desejo de conexão com o outro é o que forma um coletivo. Num momento em que a intelectualidade é tão polarizada, talvez o sensível seja o caminho possível para a coletividade.
Também fica claro que o trabalho do Hugo parte neste exercício de um movimento coreográfico, mas que vai evoluindo para uma proposta de improvisação coletiva
Pesquisa coreográfica em coletivo (15:00 – 25:00) : Em câmera lenta e sobre a orientação do Hugo eles criam uma coreografia que passa do terror para a marylin monroe. Dessa forma o Hugo vai trabalhando vários estados afetivos a partir da corporalidade. No caso da Monroe ele dá várias orientações de moviemento: encolher a barriga, mostrar os dentes, torço torcido, etc... Depois fizeram a mesma proposta com o Obama de cada um e uma cena de assassinato político.
Observações do Hugo:
Quando eu digo: faça a Marilyn e você é você e a Marilyn vai pra fukz funder nainz. Então naõ serve.
Não termina até que não termine.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 1) uma coisa é fazer o personagem da Marilyn se esta é a proposta (o que não é o mesmo que defender um personagem numa improvisação livre) a outra é não deixar de ser a si mesmo em todos os casos.
(Sobre 2) Sentir o tempo da cena é essencial. Tanto o início quanto o final. O final da cena tem tanta importância quanto o início e deve ser tratado como tal.
Me parece que este exercício é uma boa forma de trabalhar a sensibilidade corporal de cada um de maneira que possam sentir muscularmente o que significa fazer cada personagem.
Também o exercício tem uma abordagem de criação imagética usando os fundamentos do movimento da técnica muscular que o Hugo propõe. Essa abordagem é bem eficiente para a criação coletiva principalmente pelo uso da câmera lenta. A câmera lenta proporciona o sentir do momento ao invéz da proposição intelectual.
Me parece que para o exercício ser efetivo ele tem que trabalhar com arquétipos universais, isto é, simbolos genéricos que todos podem se relacionar. Em um momento o Hugo pede para que todos protestem, mas não dá o conteúdo do protesto apenas a ação. O conteúdo não é importante na cena, pois o efeito cênico está no ato do protesto. Por esse motivo eu diria que o teatro que o Hugo propõe é um teatro de ator, pois o elemento mais importante é a ação.
Vídeo 2: https://youtu.be/66yZjUiMZmo
Pesquisa coreográfica em coletivo (00:00 – 22:00) [Continuação] : Continua a criação coletiva, mas agora criando um quadro de terror em câmera lenta. Todos veem esse quadro de terror. Depois trabalha andamentos com alterações bruscas entre congeladas e rapidíssimos (que ele chama de curto circuito). Como todos em câmera lenta ele pede para que alguém se destaque (corifeu) e dance como Carmem Miranda, aos poucos cada um vai entrando como Carmem, preenchendo o coro como um todo. Em seguida vai trabalhando cada parte do corpo independentemente com o resto do corpo congelado e começam a cantar o “Brasil”. Por fim, sentados em coro começam com um trabalho em câmera lenta de máscaras fazendo um protesto. Em seguida o resto do corpo entra gradualmente com um gesto de protesto. Para finalizar a cena ele pede para uma atriz levantar e cantar como um louca!
Observações do Hugo:
Interpreta com o corpo, não interpreta com a cabeça. Com braços e mãos, todos apoiados. Lento, não interpreta, sente o braço.
[corrigindo a postura individual de alguns atores] um corpo hollywoodiano. Esse corpo é assim. [dá o exemplo] Se você não se cuida, você interpreta. Não sinto que tenham a objetividade crítica do movimento.
Você pode ser livre, ser você, mas com uma qualidade de conjunto.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 3) Mais uma vez a ideia de corporificação da interpretação. Sair da intelectualidade.
Me parece que este exercício tem uma ideia pedagógica de trabalhar uma diversidade de possibilidades expressivas do corpo: desde o corpo coletivo do coro até o corpo individual do corifeu, mas também o movimento como um todo, em partes, sem esquecer da voz.
(Sobre 4) Hugo coloca uma ideia de se ter consciência da proposta que se está pesquisando para que a auto-pesquisa corporal seja algo além de uma catarse individual.
(Sobre 5) A relação técnica entre coro e corifeu: Estar juntos não significa estar iguais. Você pode estar livre, mas com uma conexão com o outro. E quando ele fala “conexão”, parece que o principal é o movimento, não se trata de uma conexão psicológica, mas sim expressiva.
De maneira geral o exercício se trata de uma quadruple exploração: os atores se exploram tanto como corifeus quanto como coro, a direção explora possibilidades de composição e os músicos exploram sonoridades. Tudo integradamente e em performance, nunca parando o exercício. É tanto uma forma de criação quanto de prática técnica.
Momento de Conversa (22:00 – 32:35):
Observações do Hugo:
Eu não gosto muito de dirigir, mas quando sinto que posso tirar proveito é bom.
Sentir que pode mudar tudo em um instante em sério.
Eu sinto que vocês não se animam a sair da primeira provocação.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 1 e 2) A proposta é que o coletivo consiga eventualmente ter essa unidade sem necessidade da direção. Poder dirigir-se em coletivo e não seguindo ordens de um comandante. Se trata de uma conexão não verbal, uma comunicação expressiva e sensível.
(Sobre 3) A provocação da direção é apenas um início. O interessante é quando a atriz faz um desenvolvimento daquilo segundo a sua performance sensível daquele momento.
Vídeo 3: https://youtu.be/1djXWA6ICVA (Tem apenas 30 segundos)
Vídeo 4: https://youtu.be/j5y1RIBNDCU
Momento de Conversa (00:00 – 04:30) [Continuação] :
Observações do Hugo:
[Demonstra uma câmera lenta] Porque que você não pode passar por vários estágios e não apenas um? Quando você pega esse caminho você vai se instruindo. Você é que tem que saber do seu peso, da sua dimensão, etc…
Notas do Pesquisador:
(Sobre 4) Auto-pesquisa se trata de dar independência pedagógica ao artista, para aumentar o seu nível de auto-didatismo.
Santa Ceia e samba (04:30 – 21:32): O coro se coloca na postura como se fosse a santa ceia. Começam com uma alegria. Congelam. Todos se movem em câmera lenta junto com o canto da atriz (coriféia). Ela começa cantando e rindo, o coro vai ao chão e depois entra na rizada mesmo congelados. A atriz começa a sambar e chama o coro para sambar junto. Após ligeiras orientações Hugo conduz uma coreografia em que o coro começa a sambar um por um e coletivamente primeiro em roda e depois pelo espaço. Explorando os andamentos rapidíssimo, pausa, normal e câmera lenta. Em seguida também as partes do corpo muito similarmente ao exercício anterior. O Samba aos poucos vira guerra em câmera lenta e todos morrem no chão.
Observações do Hugo:
É meio louco como desce a qualidade quando entra a liberdade. É visivelmente deprimente.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 1) O Hugo exige uma auto-observação constante. Estar em liberdade criativa não significa perder a qualidade de movimento e de sensibilidade com o outro. Me parece que a habilidade de criação em coro é algo delicado que facilmente se perde.
Mais uma vez esse exercício é um trabalho dos Parâmetros do Movimento tanto em coro quanto como corifeu.
Judas escariotes em câmera lenta (21:32 – 30:52): Começam com uma conversa e em seguida vão para um exercício de contruir Judas escariotes em câmera lenta.
Observações do Hugo:
O que parece simples é sempre difícil de conseguir. E vocês acham que não tem muito interesse por ser simples. Então as vezes você não arredondeia o seu trabalho por uma questão de desmérito.
É evidente quando você se diverte e sai do trabalho e passa a ser você e não mais um trabalhador. É para ser uma liberdade consciente.
Sinto que não somos donos da imagem que provocamos. Em vez de fazer um Guernica você faz qualquer coisa. Sentir o que é que o som e a imagem estão te provocando.
[fazendo uma proposta cênica] Todos aqui façam cara de judas escariotes. Não vai pelo caminho exterior, mas de dentro, a traição de dentro.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 1, 2 e 3) Uma coisa é executar uma ordem, a outra é realmente adentrar naquela proposta a fundo. Quando isso acontece, qualquer ação, por mais simples, é importante.
(Sobre 4) O caminho exterior e o caminho interior são duas propostas que o Hugo costuma trabalhar em momentos diferentes. Por vezes a exterioridade provoca uma interioridade, por vezes é o contrário, mas independentemente, a conexão precisa acontecer. Se há apenas o exterior, o resultado é falso, e se há apenas o interior, não há expressão.
Vídeo 5: https://youtu.be/2uoO6rMObNk
Judas escariotes em câmera lenta (00:00 – 08:55) [Continuação]: Seguem como judas até que uma música externa à aula começa a tocar. O Hugo pede para que utilizem essa provocação aleatória transformando gradualmente a ação em uma dança de judas.
Notas do Pesquisador:
Quando aparece uma música externa e ela é aproveitada pelo Hugo trata-se de um ótimo exemplo da pesquisa continua, isto é, todas as provocações, esperadas ou não são parte da criação. Interferêncais
Fim da Aula/Ensaio
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