Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 30/05/2017
Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 30/05/2017
Vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=3xlbzjHwwAY {sem acesso]
Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=zLX_vHD1dN4
Coreografia da Democracia (00:00 – 30:00): O vídeo começa no meio de um exercício coreográfico com a palavra democracia. Cada sílaba da palavra correponde a um passo da coreografia. Os passos são simétricos, uma sequência igual para cada lado. Ele explora as direções (Frentes) simetricamente e uma abordagem minimalista na composição musical das sílabas começando com a sílaba DE, em seguida DEMO, depois DEMOCRA e, por fim, DEMOCRACIA. Um exemplo de uma parte da coreografia é a estrutura abaixo:
DE – Passo para direita
MO - Passo para a direita
CRA - Passo para a direita
CI – Passo para a direita
A – Passo para a direita com levantamento do braço com mão fechada em protesto
DE – Passo para esquerda
MO - Passo para a esquerda
CRA - Passo para a esquerda
CI – Passo para a esquerda
A – Passo para a esquerda com levantamento do braço com mão fechada em protesto
Observações do Hugo:
[corrige os tropeços de um dos alunos]
Quando eu era estudante e meu professor me dizia para fazer o “nove”, eu era perfeito! Porque eu fiz todos os dias. Vocês não fazem isso com nenhum professor. Com nenhum. Ele disse para colocar-se de pé cinco vezes por dia diante do espelho, ele disse para cantar todos os dias, não fazem, ele disse para fazer tantas coisas por dia, não fazem. Como querem aprender? Sempre por obrigação? Sempre vou bater na cabeça? É feio aprender assim.
O interessante não é entrar todos de uma vez, mas sim entrar um, depois dois, depois 3, etc... Vocês acabam com a coisa muito rapidamente.
[após o Marcus tocar e todos começarem imediatamente] Porque ele toca e é uma ordem? Porque não esperam para criar um espaço? Ah, não, tocou a guitarra, é a senha. Trabalham por senhas, não trabalham pela emoção.
Todos os exercícios são tremendamente dificeis de fazer. Quanto mais simples, mais complicado.
O que que vocês, como espectadores, veriam do que estamos fazendo? (…) Quero que lembrem do argumento. Isto deveria estar na cabeça sem que eu falasse: “Estou indo para a manifestação”.
Notas do Pesquisador:
Interessante reparar a qualidade direta do discurso poético do Hugo: quando ele vai fazer uma crítica política não há meias palavras, mas um discurso direto, isto é, pessoas protestando com a palavra DEMOCRACIA.
(Sobre 1) Em todas as aulas há uma exigência de Disponibilidade, isto é, uma exigência de que todos os exercícios, por mais repetitivos, devem ser feitos como se fosse a apresentação. Não é permitido titubear. O olhar agudo do Hugo não só via os “defeitos” de movimento como fazia questão de mencioná-los sem falta.
O Hugo alterna entre momentos de grande liberdade das características formais dos exercícios e outros de grande disciplina. Por vezes o que importa é o andamento conjunto (como nas câmeras lentas, por exemplo), já outras vezes cada passo é coreografado nos mínimos detalhes.
(Sobre 2) Disciplinar-se é essencial para o trabalho do ator. É preciso treinar. Caso não se treine, o diretor terá que disciplinar o ator por meios autoritários, ou então.... comprometer qualidade da cena.
(Sobre 3) Uma estratégia coreográfica utilizada pelo Hugo é o coro que vai se formando pelo acréscimo de um componente de cada vez. Começa com um ator, depois dois, três, quatro, etc... até formar um coro. Trata-se de um jogo constante entre ser coro e ser coriféia.
(Sobre 4) Mais uma vez não se trata de seguir ordens, mas de despertar uma sensibilidade criativa, uma poiesis e não apenas uma praxis.
Alguns exercícios que se repetem em quase todas as aulas. O objetivo é o estabelecimento de uma inteligência cinestésica de coro. Neste exercício não é diferente. O Hugo propunha releituras do mesmo exercício com diferentes proposições cênicas, seja no texto ou na dramaturgia do momento:
Câmera Lenta em coletivo.
Trabalho com os andamentos em coletivo.
Coreografia de correr, pausar, cair em espiral e levantar em 5 fotos em coletivo.
Vídeo 3: https://www.youtube.com/watch?v=hifxdMiRccY
Coreografia da Democracia (00:00 – 11:00) [Continuação]: Continuam trabalhando diferentes momentos da coreografia da democacia.
Observações do Hugo:
Seria Genial se todo mundo tivesse uma bolsa com farinha e uma bolinha para explodir e voar farinha. Ou então todos com uma bandeira indo para a manifestação.
Todo mundo começa a gritar “Fora!” e “Diretas já!”. “Fora” não é “Fora Temer”. “Fora” já diz tudo.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 7) Muitas vezes o Hugo criava possibilidades coreográficas para serem realizadas em coro como um compositor visual cinestésico. Um padrão que se repete é a utilização do recurso de unidade do coro, isto é, todos terem o mesmo elemento para se movimentarem. A ideia de ter uma massa de pessoas realizando a mesma ação (mesmo que cada um a sua maneira) é uma constante. Trata-se de uma dialética entre uma unidade coletiva e uma diferenciação individual, cada um faz a sua maneira a mesma coreografia de todos.
(Sobre 8) Uma característica das proposições políticas do trabalho do Hugo é um discurso não literal, isto é, não há o compromisso de esmiuçar cada detalhe do posicionamento político de uma cena. Como resultado dessa proposta, as cenas possibilitam uma diversidade de interpretações, ainda que, de maneira geral, é possível delinear as suas inclinações políticas.
Vídeo 4: https://www.youtube.com/watch?v=qduF7GHbiSE
Coreografia da Democracia (00:00 – 21:34) [Continuação]: Todos tiram suas camisetas para agitá-las como bandeiras enquanto catam “Que país é esse” da banda Legião Urbana. Depois o Hugo segue coreografando cada passo correpondente às sílabas da palavra DEMOCRACIA.
Observações do Hugo:
Quanto saímos, as camisas fazem oitos, como bandeiras.
Não é bailar, é sair. É estar político.
Notas do Pesquisador:
(Sobre 10) Por mais que este trabalho derive de uma integração do teatro com a dança, não se trata de dançar apenas por dançar, mas sim de ter um cuidado com o movimento e utilizar princípios da dança como ferramentas do ofício do ator. É um descentramento da palavra como principal atividade do intérprete para focar também no movimento.
O poder do coletivo realizando a mesma movimentação é visível. Para mim, isto demonstra uma escolha político-estética do Hugo: a ideia de que o fazer teatral não é apenas uma catarse estética, mas serve como mecanismo de mobilização social para agirem conjuntamente em protesto. As suas proposições técnicas refletem este objetivo. É um movimento sequencial e condicional: técnica → Estética → Política . A técnica gera uma estética que é política. O resultado político desejado pede uma estética específica que, por sua vez, necessita de proposições técnicas correspondentes.
Fim da Aula/Ensaio
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