Transcrição e Análise de Movimento - Ensaio dia 13-06-2017

 

Transcrição e Análise de Movimento – Ensaio dia 13/06/2017


Vídeo 1: https://youtu.be/4g2rzVfX2o4


Orientações de interpretação sobre o texto de cada um sobre “o que dá raiva na sociedade” (00:00 – 26:40): Cada um fala o seu texto sentado no chão e o Hugo dá orientações de interpretação.


Observações do Hugo:

    1. Primeiro texto: Muito melhor ainda. Só que eu vou te dar uma dica. [fala acentuando a sílaba “fá” para cima] “é fácil ser negro”. Diz [fala acentuando a sílaba “fá” para baixo] “é fácil ser negro”. Acentua e dá a última nota. Senão pinta um afeitamento. Porque se você faz isso de um lado é branco e do outro é preto. Você mostra todo o seu machismo dentro desse pensamento e depois mostra toda a sua delicadeza no jogo da camiseta. Tenta de novo.

    2. Segundo texto: Está bem, mas eu acho que se você fizer assim [mostra uma possibilidade mais conjectural e outra mais revoltada] aí já sai de uma coisa individual e vai para algo mais coletivo. Porque senão já é um romanticismo que não me pega, já é poesia, é lindo, mas é poesia. Tira a poesia.

    3. Terceiro texto: Eu acho super bom. Não sei se um pouquinho mais violento, mais raivoso seria bom. Por exemplo, fala isso sorrindo.

    4. Quarto texto: Eu não vejo uma revolta, eu vejo um conto.

    5. Quinto texto: Sempre tem que ser mais preciso, sintetizar e levar para lugares mais positivos, mais fortes.

    6. Sexto texto: Faz como se estivesse falando pra sua mãe.

    7. Sétimo texto: está bom.

    8. Oitavo texto: Acho que da última vez você foi mais agressiva, agora ficou mais automático [a fala do texto].



Notas do Pesquisador:

    1. (Sobre 1) Uma orientação de interpretação que é recorrente no Hugo é a finalização das falas. Há duas possibilidades mais gerais: pode terminar uma frase com uma acentuação mais aguda (para cima) e outra mais grave (para baixo). Cada uma dessa confere uma tonalidade diferente para a fala dependendo das micro variações na forma de falar. Algumas possibilidades estão listadas abaixo:

        1. Para cima: fragilidade, delicadeza, pergunta, dúvida, etc…

        2. Para baixo: Força, determinação, rispidez, certeza, etc...

    2. (Sobre 2) O texto que a atriz trouxe tinha um tom mais poético, mas a cena precisa de uma atitude de revolta. Para tanto, o Hugo não apenas dirige a interpretação do texto, mas muda o próprio texto para se adequar à cena.

    3. (Sobre 3) Aqui ele propõe um contraste utilizando o sorriso no ator enquanto ele fala um texto de revolta.

    4. (Sobre 4) O Hugo propõe uma revolta, não porque o texto como tal não era bom, mas sim porque a necessidade da cena é a revolta.

    5. (Sobre 8) O texto não pode ser dito automaticamente. O mais importante é que ele tenha uma ou mais tônicas musculares tanto para trazer verdade ao texto quanto para dar-lhe emoção.



Vídeo 2: https://youtu.be/22vA7TYiKdM 


Passagem da cena da Democracia (00:00 – 26:30 ): Começam em roda e fazem os discursos da cena da Democracia.



Observações do Hugo:

    1. Isso é que eu não entendo: até quando tenho que falar que tem que ter a mesma distância entre todas pessoas. Quantas pessoas tem aqui? 12? Então tem que ter uma pessoa na frente da outra em diagonal.

    2. Performance 1: Se estapeia todo sem parar.

    3. Performance 2: Mostra cenicamente como ele sugere que a cena seja feita.

    4. Performance 2: Está perfeito, mas você se esquece que para mim o ideal é fazer na rua. Então está muito baixo, eu não te ouço.

    5. Performance 4: Vai caminhar em circulo também? Gente, façam o que querem, não esperem que eu marque. Fala pra um, fala pra outro, vai a diferentes espaços.

    6. Performance 10: Ninguém vai ouvir.

    7. Performance 11: Amor, volta, você não pode caminhar assim. Dobra seus pés pra caminhar. Levanta o calcanhar quando vai dar um passo. Senão parece um neném. As vezes quando eu corrijo essas coisas é que vocês aprenderam, mas quando vão interpretar apagam tudo que aprenderam.

    8. Performance 12:



Notas do Pesquisador:

    1. (Sobre 1) Há uma característica bastante matemática na visualidade do Hugo: 12 pessoas fazendo um círculo vão ter necessariamente uma formação específica. E o mesmo acontece para todas as configurações numéricas do coro.

    2. (Sobre 2) Aqui ele dá ao ator uma ação física para complementar e dar estofo a sua atuação.

    3. (Sobre a mudança de tônica muscular) A mudança de uma tônica para a outra é uma estratégia visceral da Técnica Muscular. Quando ocorre a mudança a cena se transforma não apenas de lógica, mas também de atmosfera. Isso confere uma imprevisibilidade à cena.

    4. (Sobre 6) Não se trata de marcar a cena, mas de ter um ator livre e, portanto, potente. O Hugo costuma marcar, quando se trata de uma cena individual, apenas quando o ator não atinge por si só a liberdade e potência necessárias a cena ou então quando ele vê que está perdendo uma oportunidade única.

    5. (Sobre 7) O olhar observador do Hugo não deixa passar nenhum detalhe do movimento dos intérpretes.



Conversa sobre o que foi feito (26:30 – 35:07): Sentados em roda próximo do Hugo, ele dá orientações para cada um.



Observações do Hugo:

    1. Se lembre do que eu disse: associem o seu problema pessoal a um problema político. Tem que ser coisas com cojones, pois quero que muda essa merda!

    2. Por exemplo, o joão diz que é gay, mas é um macho caminhoneiro. O único que você tem de gay é uma caminhada de menino mimado. [mostra como caminha]

    3. [mostra a pose de um ator ao gritar] “eu sei que o mundo não vai mudar porque eu canto, então eu grito. [grita com as mãos fragilmente posicionadas para trás]. Olha a pose: Fudeu! Vocês têm que entender que no teatro tudo tem um significado. Com essa pose, gritou porque deu o cú.

    4. Tem uma afetação geral que todo mundo parece que é gay. Porque essa afetação?

    5. Quem tem medo não consegue se expressar. É preciso ter cojones. Parece um menino que cumpre uma ordem. Fala! Com um registro mais baixo.


Notas do Pesquisador:

    1. (Sobre 2) Ser Gay não significa ter uma movimentação específica. Como atores é preciso saber distinguir as possibilidades de movimento

    2. (Sobre 3) O Domínio do Movimento não se trata apenas de dominar os Parâmetros do Movimento, mas também o aspecto semiótico de cada movimento e saber jogar com eles.

    3. (Sobre 5) Mais uma vez há uma mistura entre orientações parapsicológicas como a primeira frase e apontamentos do ofício do ator como a última frase. Essa característica recorrente estabelece um vinculo quase que terapêutico da aula do Hugo: as orientações de movimento e voz são também orientações sobre como se colocar no mundo.



Vídeo 3: https://youtu.be/i6rw3hx6Qvs



Conversa sobre o que foi feito [Continuação] (00:00 – 36:36): Sentados em roda próximo do Hugo, ele dá orientações para cada um.


Observações do Hugo:

    1. [sobre a interpretação de um aluno] Não, não é com a cara. Todo mundo acha que com a cara [de bravo] soluciona tudo. E a voz continua igual. Fixa o olho, fala pra outro, fala pra dentro do outro, não tenha medo de falar pro outro. [depois do aluno tentar novamente] Porque você fala assim: “planejar, procurar [ofegante], planejar…” Não! [mostra como deve ser] “Pensamentos repentinos, planejar! [firmemente]” São coisas sólidas.

    2. Os finais para cima são horríveis. Põe todos os finais para baixo.

    3. Porque faz ofegante? Você é asmático? Não é porque está doente, está doente daqui [aponta para a cabeça]. Ator se defende sempre. Isso que você está sentido é humano. Ator não é humano. Eu já fiz peça de três horas e nunca senti vontade de cagar enquanto estava no palco. Eu tinha um companheiro que era epiléptico e nunca teve um ataque enquanto estava no palco. Porque somos outra entidade. Assume essa entidade e não a sua.

    4. Muito melhor, melhor. Ai meu deus do céu, que trabalho que dá. É uma profissão cruel. Mas satisfatória, dá prazer ver o resultado. Agora, um bom aluno sai daqui e repete 30 vezes.

    5. Você sabia que você é um cara bastante bonito? Mas você não se trata assim. Você tem dúvidas enormes sobre você mesmo. Em vez de ficar sedutor, você se trava todo para falar. Por isso que fica assim [a voz].

    6. Não respira pela boca, hoje fez bem porque não respirou pela boca.

    7. Uma coisa chata que tem no teatro é quando uma pessoa fala como o ave maria.



Notas do Pesquisador:

    1. (Sobre 6 e 10) A Voz Muscular, uma das proposições técnicas do Hugo, consiste em uma integração entre as tônicas musculares e a emissão vocal do intérprete. Neste caso, como o texto está sem vida, o ator pensa que apenas alterando superficialmente a expressão facial ele necessariamente estará alterando a voz. Mas em realidade é preciso um treinamento diligente para que o corpo e a voz se movimentem em sincronia.

    2. (Sobre 7) Mais uma vez a diferenciação entre os finais das frases e a sua implicação para a expressão do intérprete.

    3. (Sobre 8) Aqui Hugo enfatiza os aspectos não semióticos do ofício do ator. Um pensamento similar à noção de corpo poético de Jorge Dubatti. O ator não está ele próprio no palco, mas sim sofre uma dessubjetivação como ser humano e uma ressubjetivação como o personagem em questão. “Assumir essa entidade” equivaleria a densificação do corpo poético proposto por Dubatti.

    4. (Sobre 12) Isto é, sem variações na fala. A questão é viver cada palavra como única, vivê-la a cada momento.



Fim da Aula/Ensaio

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